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Os Bolos D. Rodrigo

O Algarve tem uma muito rica e variada doçaria e eu, não sei porquê, tenho-me lembrado muito dela nesta Quaresma, principalmente dos bolos Dom Rodrigo. Quem foi Dom Rodrigo?​

Este, Dom Rodrigo António de Noronha e Menezes, foi 40.º Governador do Algarve, na segunda metade do século XVIII. Os Governadores do Algarve tinham moradia oficial no Palácio dos Governadores de Lagos e no Castelo habitava o Alcaide da cidade, ambos dentro das muralhas de Lagos. Lagos foi elevada a capital do Algarve de1573 a 1762, Dom Rodrigo foi Governador do Algarve de um de Abril de 1754 a 1762, quando entregou o seu cargo de Governador de Algarve ao rei Dom José I por grande falta de dinheiro para fazer face às necessidades e por a esposa se recusar a voltar a morar em Lagos com os filhos.

Os bolos D. Rodrigo que estão na origem desta confraria têm o seu surgimento no dia 01 de Abril de 1754, data da recepção oferecida pelo Alcaide de Lagos ao Governador do Algarve, Capitão-General Dom Rodrigo António de Noronha e Menezes que tomava posse. Além da recepção festiva na sua chegada e da sua família a Lagos também houve um almoço-recepção no castelo do alcaide com a presença de todas as edilidades mais importantes de Lagos e arredores. As freiras do Convento do Carmo de Lagos, as Irmãs Carmelitas, também quiseram presentear o Governador do Algarve que tomava posse e, com a permissão do alcaide trouxeram para a mesa duas grandes e ovais travessas de prata de BOLOS Dom RODRIGO e a Madre Superiora Carmelita, também convidada, explicou a D. Rodrigo estes bolos que lhe ofereciam, criados para esta ocasião e que foram denominados BOLOS D. RODRIGO. A doceira-mor e a cozinheira-mor do castelo ficaram descontentes, pois estes bolos foram muito apreciados por todos e louvados em detrimento de todos os outros apresentados pela doceira-mor.

Assim os BOLOS D. RODRIGO são bolos conventuais, criados no Convento do Carmo sediado em LAGOS, Portugal pelas Irmãs Carmelitas deste convento para o dia 01 de Abril de 1754 e percorreram os tempos até aos nossos dias muito apreciados por todos. Por isso esta é uma data a comemorar pela confraria.

Actualmente, século XXI, este bolo está a ganhar projecção nacional e internacional. Então chegou a hora de identificá-lo de forma correcta.

Se utilizarmos a sua designação completa como se faz com os bolos de outras regiões, por exemplo: o pastel de Belém ninguém o designa por Beléns e muitos outros exemplos se pode encontrar por este país fora.

Ora os bolos D. Rodrigo podem ser designados assim que é a forma mais apropriada e, na pastelaria, pedimos assim:

1 bolo D. Rodrigo

2 bolos Dom Rodrigo

3 bolos D. Rodrigo

........

mas é nosso costume encurtar tudo o que se diz de modo que a mensagem que se quer passar, chegue mais depressa ao receptor. Neste caso podemos omitir bolo(s) porque este significante é claro para a empregada da pastelaria e assim podemos dizer em português corrente

1 Dom Rodrigo

2 D. Rodrigo

3 D. Rodrigo

.......

porque o plural que advém da quantidade desejada só se pode aplicar ao significante “bolo” e não ao nome próprio que o identifica – D. Rodrigo, Governador do Algarve com residência oficial em Lagos, capital do Algarve na altura. Já agora, Lagos foi capital do Algarve de 1573 a 1762, logo durante 189 anos.

É característica da doçaria algarvia ser confeccionada com amêndoa, calda de açúcar, fios de ovos, muitas gemas de ovos, …

De entre os bolos da nossa doçaria, gostaria de destacar:

» as castanhas de amêndoa;

» os florados de Lagoa;

» os almendrados;

» os figos de amêndoa e chocolate;

» o tutano celeste;

» o morgado de figo;

» a amendoada;

» os queijinhos do céu;

» o morgado de Silves;

» o bolo mimoso;

» os bolos D. Rodrigo, naturalmente.

Naturalmente, porquê? Porque estes bolos, feitos com fios de ovos, amêndoas raladas, calda de açúcar, gemas e canela são envolvidos em papel vegetal e colocados em quadrados de folha de estanho, vulgarmente conhecida por “pratas”, que lhes dão uma forma final singular e única e a terra de origem destes bolos maravilhosos é LAGOS.

Então com muito gosto partilho convosco estas fotos.

Sobre os morgados, antigamente as cores que os morgados orgulhosamente exibiam eram tal e qual telas pintadas a aguarela, suaves e subtis, simplesmente delineadas, onde os tons primários do doce fino (perolado) prevaleciam na maior parte da superfície dos morgados. Os tons pastel continuam a ser os mais apelativos a degustar neste manjar dos deuses de sabor bem personalizado, quando confeccionado com amêndoas algarvias.

Estes morgados de amêndoa são recheados com fios de ovos, ovos moles e gila.©

BIBLIOGRAFIA

(PAULA, Rui M.; Lagos – evolução urbana e património; edição de Câmara Municipal de Lagos; Lagos, Outubro de 1992, p.364)

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